Copacabana Princesinha do Mar

Na época em que ainda era habitada apenas por índios, toda a região que abrangia de Copacabana à atual Lagoa Rodrigo de Freitas - incluindo Ipanema e Leblon - era chamada por eles de Socopenapã, topônimo de origem tupi para designar "o caminho dos socós". Esse nome persistiu até o século XVII, quando peruleiros - mercadores bolivianos e peruanos que vieram para o Brasil comercializar objetos de prata - trouxeram para o Rio de Janeiro uma réplica da imagem da Virgem de Copacabana, santa venerada pelos habitantes da península ao sul do Lago Titicaca. Os pescadores que habitavam o lugar erguem então uma capelinha sobre a rocha, na qual a santa é colocada no pedestal, dando início ao culto. Copacabana significa "Mirante do Azul", na língua falada pelos quíchuas, que habitavam a região da qual foi trazida a imagem.

O bispo Dom Frei Antônio ergueu, em 1746, uma igrejinha no mesmo lugar da antiga capela, tornando-se local de veneração e romarias durante quase 170 anos, quando é demolida (1914) para dar lugar ao Forte de Copacabana, hoje Museu Histórico do Exército. Durante muitos anos, as terras arenosas e de vegetação baixa de Copacabana permaneceram desabitadas, devido às dificuldades de acesso por via terrestre, embora desde o século XVIII a região já estivesse integrada ao sistema defensivo marítimo da Cidade, com a construção do Forte do Vigia (1770, atual Duque de Caxias), no alto do morro do Leme (280m), e do Reduto de Copacabana, sobre a rocha no local das atuais ruas Rodolfo Dantas e Inhangá.

A renovação do contrato de concessão da Companhia de Carris Jardim Botânico (1890) e a sua subseqüente associação ao grupo de empresários da recém constituída Empreza de Construcções Civis (1891) resulta na perfuração do Túnel Alaor Prata - o Túnel Velho - no final da rua Real Grandeza, em Botafogo, pelo engenheiro José de Cupertino Coelho Cintra, considerado "o pai de Copacabana". É essa parceria que viabiliza a instalação dos trilhos e possibilita a chegada dos primeiros bondes de tração animal, até a atual Praça Serzedelo Correia. A primeira linha é inaugurada em 6 de julho de 1892, dando início à ocupação e integração à Cidade. Começa então o seu inexorável processo de transformação em Copacabana, "a Princesinha do Mar" e o início do loteamento de terrenos. Em 1894, os trilhos dos bondes já atravessam metade do bairro, seguindo à direita pela praia até a Igrejinha, possibilitando a abertura de novas ruas. O ramal do Leme é inaugurado em 1900. Em 1903, bondes já movidos à eletricidade circulam por todo o novo bairro, da Igrejinha ao Leme.

A remodelação urbana do prefeito Pereira Passos estende-se além do Centro e da Avenida Beira-Mar. A perfuração do Túnel Novo, em 1906, facilita a integração do novo bairro à Cidade aumentando a demanda por terrenos. No mesmo ano, o início da construção da Avenida Atlântica impulsiona ainda mais as vendas de terrenos incentivando a ocupação de novas áreas.

Em poucos anos, Copacabana passa a dispor de ampla infra-estrutura de serviços públicos: água, esgoto e iluminação a gás. A rápida urbanização valoriza a região, estimulando a construção de inúmeras casas e mansões. Em 1918, o bairro já apresenta configuração definida, com características residenciais. Nas duas primeiras décadas do século XX, o bairro se consolida, chegando a ter, em 1920, 22.761 habitantes. Em 1922, Copacabana alcança as manchetes nacionais com o episódio político: "Os Dezoito do Forte" e no ano seguinte é brindada com o Copacabana Palace, primeiro arranha-céu do bairro, um luxuoso edifício em estilo francês. Em 1931, já existem vários prédios de apartamentos. O bairro torna-se “chic” e ganha ares sofisticados, atraindo um comércio elegante e personalidades, turistas do mundo inteiro e ganhando projeção internacional.

Cresce vertiginosamente o bairro que será o futuro berço da “Bossa Nova”, do colunismo social, dos cassinos: Atlântico e Copacabana, dos centros comerciais, dos concursos de “miss”, dos “shows” internacionais, do Beco das Garrafas, dos guarda-sóis coloridos, das pipas na areia, do futebol de praia, do jogo de peteca, do frescobol e do futevôlei, dos calçadões com desenhos ondulados e de tantas outras novidades.

Nas décadas de 1940 e 1950, o bairro acelera seu processo de verticalização e adensamento populacional, facilitado pela liberação dos gabaritos das edificações, em 1946, para oito a 12 andares. Em 1950, Copacabana já é um importante subcentro e apresenta autonomia em relação ao Centro da Cidade. Entre 1945 e 1965 sua população quase dobra. Atraindo boa parte do comércio e do lazer de outras áreas, especialmente a da região central, onde se concentrava a vida noturna da Cidade, o bairro transforma-se em uma verdadeira "cidade dentro da cidade". A partir de meados da década de 1960, tomado por edificações de arquitetura pobre e caráter meramente especulativo, o bairro começa a perder prestígio e seus serviços deterioram-se. No início dos anos 70, já se nota um esfriamento na explosão imobiliária. O período 1960-70 fica marcado por grandes investimentos no setor viário e pela realização de importantes intervenções, como a abertura dos túneis nas ruas Toneleros (Túnel Major Rubens Vaz) e Barata Ribeiro (Túnel Prefeito Sá Freire Alvim).

Na década de 1970, a Avenida Atlântica e a Praia de Copacabana são ampliadas - obras que exigem um imenso volume de aterro - ganhando um amplo canteiro central e um calçadão no lado edificado, com projeto paisagístico de Roberto Burle Marx. Em 1976, têm início os festejos do “Reveillon”, famosa festa de final de ano, considerada a maior do planeta, atraindo milhões de turistas do Brasil e de todas as partes do mundo para suas areias, com a deslumbrante queima de fogos.


Texto: Rio 500 Anos - Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

Fotos: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro