O rico acervo do Palácio Itamaraty
Embora esteja localizado no Distrito Federal, o Ministério das Relações Exteriores também é conhecido como Itamaraty, nome de um palácio que fica no Rio de Janeiro e que foi a sede da diplomacia brasileira até 1970. Atualmente, o conjunto de prédios, construídos ao longo dos anos de funcionamento da instituição, abriga uma infinidade sem paralelo de documentos históricos. Contudo, tanto o complexo arquitetônico quanto o seu acervo ainda são pouco conhecidos pela população.
O palácio original
O prédio tem estilo neoclássico e projeto de José Maria Jacinto Rabello, aluno do arquiteto Grandjean de Montigny, um dos principais nomes da Missão Artística Francesa, à qual coube introduzir a então colônia portuguesa no mundo das artes. Situado na Rua Larga de São Joaquim, atual Avenida Marechal Floriano, foi inaugurado em 1854. Pertencia a Francisco José da Rocha, o Conde de Itamaraty, e a sua esposa, que enriqueceram com o comércio de pedras preciosas e com o plantio de café no Vale do Paraíba. O local nunca serviu de moradia da família e era usado apenas para a realização de festas, como as núpcias dos filhos do casal.
Em 1889, a construção foi comprada pelo novo governo para sediar a Presidência da República. Ali residiram Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto e Prudente de Morais, até que, em 1897, o gabinete passou a ocupar o Palácio do Catete. Um dos maiores nomes da diplomacia brasileira, José Maria da Silva Paranhos foi chanceler entre 1902 e 1912, quando faleceu em seu local de trabalho. Mais conhecido como Barão do Rio Branco, providenciou obras de restauro e de expansão no Palácio Itamaraty. O centro nacional de formação de diplomatas se chama Instituto Rio Branco em homenagem a ele, que é também patrono da diplomacia brasileira.
Entre 1899 e 1970 – ano em que, finalmente, houve a transferência do órgão para Brasília –, o palácio serviu de sede do Ministério das Relações Exteriores. O patrimônio colecionado, no entanto, permaneceu no Rio. Dele fazem parte peças de origens diversas – em parte, itens que pertenceram aos proprietários originais, como alguns lustres de bronze e cristal ou peças de mobília, mas também coleções particulares adquiridas pelo ministério e até mesmo doações de antigos funcionários do serviço diplomático.
Suas 78 salas recebem nomes de autoridades que se distinguiram no setor ou, então, são batizadas de acordo com alguma de suas características. Como a Sala dos Índios, em razão do papel de parede com motivos inspirados na pintura de Rugendas, ou as salas Verde e Amarela, em razão da cor da seda que forra as paredes.
Integrante da primeira leva de imóveis tombados pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan, que antecedeu o atual Iphan), em 1938, o Palácio Itamaraty é o ponto de partida para um complexo arquitetônico que abriga o Museu Histórico e Diplomático, o Arquivo Histórico, a Mapoteca e a Biblioteca do Itamaraty. No local funciona, desde 1987, o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (Unic). Assim como muitos outros espalhados pelo mundo, o escritório da ONU no Rio de Janeiro fornece informações atualizadas sobre questões políticas, econômicas, sociais e humanitárias, além de organizar seminários e apoiar projetos locais.
Museu, Biblioteca, Mapoteca e Arquivo Histórico
O Museu Histórico e Diplomático foi inaugurado pelo presidente Juscelino Kubitschek no Palácio do Itamaraty em 1957, no intuito de preservar e expor o patrimônio do Ministério das Relações Exteriores e, também, sediar o banco de dados de todas as obras de arte da instituição no país e no exterior. Existem, atualmente, mais de cinco mil peças alojadas no centro de referência carioca. Além de pintura do século XIX, que inclui trabalhos de Jean-Baptiste Debret e de Pedro Américo, há também mobiliário dos séculos XVII ao XIX, inclusive do gabinete de Dom Pedro II. Louças e luminárias com retratos da família real, coleções de bustos, medalhas, condecorações, gravuras, tapeçarias e objetos de decoração completam a coleção de relíquias.
A Biblioteca possui cerca de 160 mil volumes relacionados à história do país. Raras edições originais de viajantes estrangeiros sobre o Brasil do século XIX integram a coleção, que é especializada em Relações Internacionais e Direito Internacional. Os periódicos alcançam mais de 1.500 títulos. O prédio da Biblioteca, inaugurado em 1930, por si só já é valioso. Da Inglaterra, vieram janelas e portas pré-fabricadas em ferro e bronze. Da Alemanha, a instalação metálica dos arquivos, a ventilação artificial e um maquinário de desinfecção do acervo em papel, à base de gases especiais. Dos Estados Unidos, as ferragens, o então moderno piso de linóleo e uma aparelhagem destinada a refrigerar a água dos bebedouros disponíveis em todas as seções, de grande vanguarda para a época.
A Mapoteca do Itamaraty é considerada das mais importantes da América Latina. Com 31.800 peças, reúne mapas topográficos, atlas, globos, cartas náuticas e hidrográficas desde o século XVI, produção manuscrita de cartógrafos portugueses, entre outros documentos antigos e contemporâneos. Os limites geográficos do território nacional, definidos apenas na gestão do Barão do Rio Branco, são um dos temas mais bem cobertos por esses mapas. Instrumentos de precisão utilizados na demarcação de fronteiras também integram a coleção. Entre as preciosidades guardadas na Mapoteca, consta a mais antiga produção cartográfica em que aparece a palavra Brasil: o mapa-múndi original chamado Orbis Typus Universalis Tabula, confeccionado em Veneza, no ano de 1512, pelo navegador Jerônimo Marini.
A origem do Arquivo Histórico se relaciona à documentação trazida de Lisboa pela família real. Atualmente, ele guarda 6 milhões de documentos da trajetória diplomática brasileira. Na coleção fotográfica, que conta com trabalhos produzidos por importantes profissionais, como Marc Ferrez e Augusto Malta, há retratos de cerca de 4.500 personalidades, entre 18 mil fotografias, desenhos e gravuras. |