História da fundação artística - quarta parte
O sucesso destas primeiras realizações atrairá adeptos entre escultores, que irão propor determinadas criações à reprodução múltipla. Assim, mais de 200 escultores, dentre os quais Bartholdi, Carpeaux, Carrier-Belleuse, Diélbot, Guimard, Jacquemart, Mathurin Moreau, Pradier, Rouillard e Rude, irão criar, em colaboração com os fundidores, modelos para ferro fundido destinados a serem moldados em série para ornamentarem não somente praças, chafarizes e jardins públicos como também o interior das residências de uma burguesia em expansão, ávida por presentear-se com moradas principescas.
Não faltou coragem para esta iniciativa dos escultores. Com efeito, uma obra de arte deve ser única ou, pelo menos, rara. Quer sejam em mármore ou em bronze, os exemplares replicados a partir de um modelo original eram limitados. Em seguida, o modelo era, muitas vezes, destruído pelo escultor. Deixar reproduzir suas obras em ferro fundido, material pouco nobre, numa quantidade indefinida parecia então uma iniciativa baixamente mercantil e insultuosa para o gênio do escultor.
Esta arte em série, "aliança entre duas marcas de qualidade", permitia oferecer ao público obras com assinaturas admiráveis a preços abordáveis. "...o ferro fundido ganha do cobre por seu preço inferior. O ferro moldado é encontrado hoje a preços tão baixos que pode substituir com vantagens a madeira e a pedra" escrevia Guettier em 1847.
Os catálogos assegurando a difusão da produção das fundições de arte, as exposições universais, misturas dos povos e das inovações que marcariam o século XIX, irão assegurar sua difusão internacional.
Sucessoras das exposições nacionais ou internacionais, as exposições universais serão "utilizadas como emblemas do progresso, símbolos das transformações em curso no mundo da produção ou da cidade". Elas constituem, a partir da segunda metade do século XIX, eventos mundiais cujas repercussões são múltiplas: políticas, econômicas, tecnológicas e, por fim, artísticas.
Catherine Chevillot, curadora do museu de Orsay, escreverá na Revista da Arte (95-1992/1) que elas "contribuíram para difundir o gosto pelo belo em todas as classes da sociedade. Pois qualquer progresso tem como efeito o combate à rotina e à ignorância".
Os fundidores artísticos expõem desde 1851, em Londres, no famoso Crystal Palace, palácio em ferro e vidro. Não hesitam em exibir objetos monumentais. Em 1862, Val d'Osne exporá, novamente em Londres, uma fonte monumental de dez metros de altura, idêntica à peça instalada na praça Monroe, no Rio.
Uma das primeiras leis econômicas reza que a produção somente acontece quando há mercado. No século XIX, o mercado da fundição artística está no auge. O urbanismo, ciência da moda, privilegia a arte de viver em metrópoles em crescimento e as fortunas privadas que vão se formando fazem florescer residências e jardins particulares. Para ornar suas realizações, os arquitetos, paisagistas e decoradores optam pela arte em ferro fundido.
Em compensação, pode-se afirmar que o mercado somente se desenvolve se a produção satisfaz. No século XIX, a qualidade dos modelos e das reproduções em ferro fundido era tão elevada que o mercado irá explodir muito além das fronteiras européias.
Fonte: Obras de Arte em Ferro Fundido (Prefeitura do Rio) |