Cantagalo
As terras do atual Município de Cantagalo foram primitivamente habitadas por índios Coroados e Goytacazes, que ainda permaneceram na região por muitos anos após a chegada dos colonizadores. Seu desaparecimento, por emigração, extermínio ou fusão com a população que se formou, processou-se gradativamente, até meados de 1855, ao que se supõe.
Conforme a tradição popular, a origem do nome Cantagalo estaria associado aos esforços da coroa portuguesa no sentido de preservar seus direitos de exclusividade na exploração de garimpos, direitos esses postos em xeque por bandoleiros. Julgava-se então fácil a obtenção de fortuna nos garimpos do "Sertão do Leste", que atraíram numerosos aventureiros, fato que concorreu para o desbravamento da região.
Assim, o português Manuel Henrique, alcunhado "Mão de Luva", partiu de Minas Gerais à frente de um bando, atravessou o Paraíba do Sul e dirigiu-se para as vertentes dos afluentes dos rios Macuco, Negro e Grande, onde passou a explorar garimpos de forma clandestina. Instalado seu grupo no lugar em que hoje se acha a Usina Cantagalo, teve início ali, a formação de um núcleo que em 1784 contava perto de 200 moradias em que viviam mulheres e crianças já dali naturais, servindo de capelão o padre Gabriel, grande fazendeiro em Cachoeiras de Macacu.
Recrudesceram, então, da parte do Vice-rei D. Luis de Vasconcelos e Souza, as tentativas para desalojar daquelas terras os transgressores. Em certa ocasião, quando os soldados já se dispunham a regressar, depois de infrutíferas buscas, tiveram a atenção despertada pelo canto de um galo.
Procurando localizar de onde proviera tal canto, encontraram dormindo no meio da mata, um dos companheiros de "Mão de Luva", o qual foi preso e induzido, sob promessas de liberdade e dinheiro a denunciar o lugar onde se escondia o bando. Essa ocorrência ter-se-ia verificado em 1786 e a partir de então a localidade passou a ser conhecida por Cantagalo.
Manuel Henrique e os seus, reza ainda a tradição, foram degredados para a África, após julgamento realizado pelo Juízo da Intendência-Geral do Ouro, no Rio de Janeiro. Depois desses episódios, o Governo colonial instalou uma Casa do Registro do Ouro, ''distribuindo-se as terras em datas aos que quisessem faiscar''. Os resultados, porém, revelaram-se negativos, em face de se acharem esgotados os veios auríferos e por esse motivo foi extinta, logo no inicio do século XIX, a Casa do Registro do Ouro. Ficou ela todavia consignada na história do Município como o primeiro estabelecimento oficial ali instalado.
Por Concessão de 18 de outubro do mesmo ano, o Vice-rei facultou as terras de Cantagalo aos colonos que desejassem estabelecer-se na zona. Tal decisão determinou uma ativa corrente imigratória que muito concorreu para o desenvolvimento da povoação, no qual o elemento estrangeiro teve apreciável participação.
Entre os alienígenas. contavam-se muitos açorianos, citados por Mawe como indivíduos tenazes, de cujo esforço resultou a abertura de inúmeras fazendas em plena selva. Por Decreto de 6 de maio de 1818 D. João VI autorizou a vinda de imigrantes suíços e determinou que os mesmos fossem localizados no Distrito de Cantagalo e no lugar denominado Morro Queimado (local onde hoje se ergue Nova Friburgo). Posteriormente, outros colonos da mesma origem. antes fixados em Nova Friburgo, se encaminharam para Cantagalo, como atesta o seguinte trecho de uma carta do abade Joye a um amigo, datada de 6 de maio de 1822: "Nova Friburgo está quase deserta".
Os colonos trabalhavam em terras cuja fertilidade deixava muito a desejar. Bom número deles estava empregado no Rio de Janeiro. Outros, visto o solo não se prestar ao cultivo, se haviam dirigido para os lados de Cantagalo, região fértil, onde compravam terras".
Outro fator de importância para o progresso da nascente Comuna foi a exploração, pelos colonos, do trabalho escravo, que em pouco tempo impulsionou as lavouras de café, milho, feijão, cana-de-açúcar, mandioca etc, desenvolvidas a ponto de tornar Cantagalo conhecido, na época, como "celeiro da terra fluminense''. Também a inauguração da Estrada de Ferro Cantagalo, mais tarde incorporada à Estrada de Ferro Leopoldina. representou um marco expressivo para a prosperidade da comuna .
É atribuída ao Tenente José Joaquim Soares a introdução da cultura cafeeira em Cantagalo. Segundo Mawe, era tal a fertilidade da terra que em dois anos o café frutificava.
Fonte: http://www.ibge.gov.br
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